A Drª Adelaide Dias aceitou o desafio d'O Sítio da Fala e respondeu a algumas questões sobre o seu percurso profissional. É terapeuta da fala, Mestre em Bioética especializada em perturbações neurológicas do adulto, sobretudo disfagia orofaríngea (ver resumo curricular no final). Para além disso, tem uma experiência clínica invejável!
Aqui fica o seu testemunho.
Pedro - Como é que tudo começou? Coincidência ou propósito?
A minha verdadeira “missão e paixão profissional” revelou-se estar muito longe daquilo que eu inicialmente imaginei e desde cedo entendi que o meu caminho seria a intervenção com adultos e mais tarde apaixonei-me pela área da neurologia, nomeadamente pelas alterações da deglutição que daí derivam. E como nestas coisas não há coincidências, posso dizer que fui eficaz até hoje, na concretização feliz desta minha preferência.
Depois de terminar a minha licenciatura, optei de imediato por ingressar num mestrado (Bioética pela FMUP) e neste caso, sim, foi totalmente consciente e primeira opção. Já nesta fase sentia a necessidade de saber mais e além da terapia da fala, posso dizer-te que foi um ganho estrondoso e ainda hoje recordo este mestrado como essencial no meu percurso. A minha especialização em disfagia orofaríngea seguida de estágio profissional de duração de 1 mês no Brasil, foi mais uma decisão propositada que teve muito impacto na qualidade da minha intervenção. A minha passagem por inúmeras instituições em São Paulo tornou o meu dia-a-dia profissional mais interessante, motivante e eficaz.
P - Como é o teu dia-a-dia profissional?
A - O meu dia-a-dia profissional é uma verdadeira “aventura”, isto é, nunca sei com o que vou contar. Como sabes a minha prática principal decorre em contexto hospitalar, como membro integrante de um serviço de MFR. Se por um lado tenho um agendamento com os meus clientes de ambulatório, por outro tenho todos os utentes de internamento que poderão ser os já previstos ou não, já que algum/alguns podem surgir como urgentes.

Além desta dinâmica hospitalar, tenho ainda à minha responsabilidade a Coordenação de duas pós-graduações e um curso em disfagia orofaríngea, assim como exerço funções de formadora nesta área.
P - Imaginas a tua vida sem a Terapia da Fala?
A - Boa pergunta! Honestamente, imagino! E imagino-a tão boa quanto agora.
Passo a explicar, a Terapia da fala sempre assumiu um papel de muita relevância na minha vida, isto porque se sou terapeuta e se essa foi a minha opção, terei de o fazer na melhor das minhas capacidades. Contudo, penso desta forma em qualquer área da vida e por isso, se não fosse terapeuta da fala julgo que seria outra coisa e com a mesma motivação intrínseca. Embora ser terapeuta seja uma das principais marcas da minha imagem, considero que tal não ME caracteriza por si só e como tal, imagino que a minha vida fosse completamente diferente, mas igualmente desafiante.
P - Gostavas de fazer algo que não faças?
A - SIM! Mas essa é a característica essencial da minha personalidade: eu vou gostar sempre de fazer algo que não faço ainda! Nem que seja pela quebra de rotina. Seja relacionado com TF ou não. Tenho pensado muito em fazer algo “fora da caixa”, algo que me possa ajudar como terapeuta, mas que não seja terapia propriamente dita. Mas ainda estou a amadurecer esta ideia…
P - Ao longo da nossa carreira acompanhamos pessoas que nos marcam. Qual foi o caso que mais te marcou?
A - Pergunta difícil desta vez. Pode parecer “resposta feita”, mas todos me marcaram à sua maneira.
Posso talvez dizer que os casos que correm menos bem ou abaixo das minhas expetativas são os que marcam mais. Principalmente pelo aspeto de aprendizagem e de mudança que obrigatoriamente acarretam.

P - E para a frente? Quais são os projetos?
A - Mais uma pergunta que me deixa a pensar… sabes que me tenho sentido como “alguém sempre em projetos”… assumo que esta é uma fase de muitas ideias, mas de menos concretizações.

Afinal talvez agora te saiba responder: próximo projeto – aprender mais de forma a tornar a minha atividade como formadora cada vez mais prática e eficaz! Interessa-me particularmente estudar formas de ensinar que não as mais tradicionais…sim, esse são talvez um dos meus “roteiros”/projetos futuros.
Queria aproveitar ainda para te agradecer esta entrevista, principalmente porque me permitiu, pela sua conceção, falar-te de aspetos que vão além da TF. Parabéns pelo teu blog, venham mais iniciativas assim!
Resumo curricular:
- Adelaide Dias é Terapeuta da Fala na U.L.S. Matosinhos – Hospital de Pedro Hispano, Serviço de MFR e colaboradora ativa na consulta de deglutição do serviço de ORL.
- Licenciada em Terapia da Fala pela Escola Superior de Tecnologias e Saúde do Porto, 2001
- Mestre em Bioética pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, 2008; Pós-Graduada em Disfagias Orofaríngeas pelo Instituto Superior de Saúde do Alto Ave, 2010.
- Experiência em Disfagia Orofaríngea Neurológica (Hospitalar) e em perturbações neurológicas da comunicação no adulto desde 2003.
- Formadora ativa em Disfagia Orofaríngea desde 2008. Formadora Certificada desde 2003.
- Coordenadora Científica das Pós-Graduações em “Perturbações Neurológicas da Comunicação no Adulto” e “Terapia da Fala em Contextos de Saúde: Interface Voz/MOF/Deglutição” pelo Instituto CRIAP.
- Orientadora de estágios curriculares desde2005.
- Realizou estágios internacionais em Disfagia Orofaríngea em 2011 (diversas instituições de saúde em São Paulo, Brasil) e em 2015 (UC Davis, Sacramento, EUA, Departamento de Voz e Deglutição).
- Certificada no método Lee Silverman e com certificação a decorrer no método PROMPT.
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